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Saiu assim na Placar |
O Cascão era corintiano.
Eu lia tudo da Turma da Mônica e tinha isso: o Cascão e eu torcíamos pro mesmo time.
Hoje isso talvez pareça pouca coisa, mas, quando começou aquela novela em que o Doutor foi vendido para a Fiorentina, era o Cascão que gritava por mim: NÃO DEIXEM O DOUTOR IR EMBORA! E, quando a novela chegou ao fim, era como se não fosse verdade.
Além do Cascão, eu tinha outros amigos - esses, de carne e osso- que eram corintianos. Eu morria de inveja do Adriano, filho do Luiz Fernando, um amigo do meu pai, que era radialista em Poços de Caldas e, por isso, conseguiu tirar uma foto com o Doutor lá no estádio da Caldense. A foto ficava naquele mesmo quarto em que a gente viu as transmissões misteriosas da manifestação pelas Diretas Já - em que ninguém explicava direito o que era.
Minha primeira bola de futebol - a primeira de todas, aquela que vira uma companhia para uma criança - tinha um autógrafo do Sócrates. Vinha assim de fábrica.
Autógrafo do Doutor, de verdade, eu só consegui muitos anos depois, quando um amigo meu, o Ricardo Gozzi, lançou o livro que escreveu - junto com o Magrão - sobre a Democracia Corintiana.
A festa de lançamento foi no Bar Brahma, bem no coração de SP e, quando cheguei lá, pude dividir uma mesa com os dois autores. A gente bebeu cerveja, falou merda e deu risada por tempo bastante pra que aquele momento fosse memorável.
O Ricardo botou na dedicatória do livro "para meu amigo fê, um beijo na bunda". O Doutor olhou aquilo antes de assinar, deu risada da cara da gente e assinou "ao Fernando, um pouco mais sério, um abraço do Doutor Sócrates".
Hoje, 4 de dezembro de 2011, o ídolo do meu coração corintiano morreu. Vivo dizendo que os culpados por eu ser corintiano são o Cascão, Sócrates e meu pai. Não desmerecendo ninguém, mas, sem Sócrates, não ia rolar.
Hoje à tarde, o Corinthians pode vir a se tornar campeão brasileiro pela quinta vez.
Com Sócrates, nunca ganhamos um brasileirão. Ganhamos e perdemos tudo, mas sempre com democracia.
Sócrates não era o capitão do Corinthians, mas era o capitão da seleção do Telê - de longe, a melhor seleção que vi jogar.
Se o Corinthians levar o campeonato hoje, vai ser bem parecido com aquele poema do Walt Whitman que o filme "sociedade dos poetas mortos" fez virar caricatura.
Povo, exulta!
Sino, dobra!
Mas ó coração, coração!
Capitão, querido pai,
O sangue mancha o timão do navio.
Adeus, Magrão.
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